Cruzámo-nos com a Cláudia no Instagram, como com quase todos os testemunhos que por aqui partilhamos. Ela criou a página Laud Sustainable, onde partilha informação, marcas e pessoas dedicadas a uma moda mais consciente.
Defende uma valorização das peças, para que não se tornem descartáveis, e uma utilização mais consciente dos recursos ao dispôr da moda.
Obrigada por teres aceite Cláudia.
Se há algo que me lembre de gostar desde que me lembro de ser gente é de trapos. Isso, trapos! Apanhei esta frase de um professor de moda e desde então que não a largo “Eu adoro trapos”.
Em miúda, bem miúda, quando não era eu a escolher o que vestia, já me colocava em posição toda vaidosa para a objectiva da câmara. E mesmo quando não havia uma câmara por perto, qualquer espelho era suficiente para me pôr a fazer pose e admirar o reflexo.
Bem mais tarde, já no final do secundário, participei num Concurso de Estilismo e se me perguntarem não faço ideia em que lugar fiquei ou se ganhei algum prémio. Mas participei! Em conjunto com uma amiga desenvolvemos uma coleção: do nome, à narrativa, à escolha de tecidos, ao design, até às características que os modelos deveriam ter para bem representarem aquelas peças.
Já na Faculdade e ainda que não tivesse nenhuma cadeira de desenho garanto-vos que não havia um caderno meu que não tivesse um esboço. Ou de um sapato de salto alto, ou de uma bolsa, ou de uma saia rodada, enfim, qualquer discurso mais monocórdico do professor era motivo para dar asos à imaginação e uso à lapiseira.

Agora, refletindo sobre esses dias, dá-me um quentinho na barriga ao perceber o porquê.
É que eu tinha uma relação muito próxima, muito bonita, muito verdadeira, com os trapos!
Isso mesmo. Eu reconhecia-lhes valor. Eu estimava o que vestia. Eu tinha vaidade, vaidade mesmo, em mostrar aquilo que vestia. E até alguma audácia em concluir “um dia vou ser capaz de criar algo assim tão magnífico”.
É para o restabelecer dessa relação que espero contribuir com este meu testemunho. Para a relação com aquilo que temos no nosso armário e para todos aqueles itens que, por algum motivo, ainda viremos a ter.
Não se deixem apanhar na roda viva de que “o que é bom é novo”. Isso leva-nos a estar constantemente em contra-corrente e a sentirmo-nos insatisfeitos.
O que é bom é termos uma relação com aquilo que vestimos, uma relação muito próxima, muito bonita, muito verdadeira!
Cláudia Sofia, Laud Sustainable