A Inês é a cara do Écostura, um projeto de costura à mão que aproveita tecidos e roupas e os transforma em peças novas. Das suas mãos de fada saem almofadas de yoga, estojos, sacos ou pegas de cozinha. A imaginação seria o limite, mas a Inês parece não o ter!
Além de partilhar o que faz, partilha muita informação sobre o que cada um pode fazer individualmente, para reduzir a sua pegada ecológica e inspirar outros. Ela sem dúvida que o faz
Obrigada Inês, pelo interesse no nosso projeto, por teres escrito este lindo testemunho e, claro, pelo incrível trabalho que fazes.
O meu nome é Inês. Tenho 29 anos e sou a pessoa por trás do projecto Écostura, onde transformo roupas usadas e tecidos antigos em objectos úteis (malas, estojos, almofadas, sacos para tapete de yoga, individuais, guardanapos, entre muitas outras coisas). Só costuro à mão, sem máquina.
Neste meu projecto, também gosto muito de partilhar os remendos que faço nas minhas roupas e gosto partilhar conteúdo sobre as desvantages e prejuízos associados à fast fashion, as vantagens associadas à roupa adquirida em segunda mão. Enfim, o meu cantinho de interesses! E é neste espaço que gosto de falar sobre fast fashion, slow fashion, moda em segunda mão, remendos, protecção ambiental e direitos humanos.
A verdade é que a roupa em segunda mão sempre fez parte da minha vida.
Sou irmã mais nova e em criança muita da roupa do meu irmão passava para mim. Mais tarde, na adolescência, adorava ir ao armário da minha mãe e da minha avó descobrir tesourinhos e “roubar” roupa às escondidas. Também tivemos sempre o hábito em família de passar roupa entre uns e outros. Por exemplo, quando alguém já não queria alguma peça de roupa, ou uns sapatos, ou uma mala, o que fosse, antes de se doar, perguntava-se sempre se alguém queria. Faziam-se ajustes quando necessário, porque a minha avó já foi costureira. E ainda hoje mantemos estes hábitos.
Mas não só de roupa em segunda mão vivia eu.
Nunca fui consumista, mas havia o hábito de pelo aniversário e Natal percorrer as lojas com as avós e a mãe e trazer coisinhas novas. Quem nunca, não é? Só quando vi o documentário “True Cost”, por volta de 2017, já depois de ter começado o projecto do Écostura, é que me apercebi da dimensão do problema. O problema que, para mim, não é a moda em si, mas o sistema por trás. Um sistema de venda e produção massificada, que negligencia o ambiente e as pessoas que nele vivem e trabalham. Porque o problema não está apenas no mundo da moda. Também no mundo dos electrodomésticos e produtos electrónicos, por exemplo.
Num mundo em que se produz tanto e tão rápido, como é que nunca antes tinha pensado no que acontecia às roupas deitadas para o lixo?
E as roupas não vendidas? E as roupas devolvidas? E as condições de trabalho dos trabalhadores da indústria da moda? E o impacto ambiental? Tudo isto me levou a interessar ainda mais sobre estas temáticas. E enquanto que em 2017 ainda comprava roupa fast fashion, a verdade é que hoje não compro. Produz-se mais roupa do que é realmente preciso, e existe roupa já feita suficiente.
No mundo da roupa em segunda mão, encontro verdadeiros tesouros, roupa de muito melhor qualidade, roupas diferentes, sem correr o risco de vestir igual à pessoa do lado.
Neste universo, consigo construir a minha verdadeira identidade, sem me sentir influenciada por aquilo que as lojas colocam à venda e dizem estar na moda. E quem diz roupa em segunda mão, diz nas lojas de roupa em segunda mão, diz nos armários dos familiares, e nas trocas de roupa que faço entre amigos. Seja dado ou emprestado.
As roupas, que foram feitas para nos proteger contra o ambiente externo ao nosso corpo, merecem que as protejamos também, e não são pastilhas elásticas: não são para usar e deitar fora. As roupas são para serem usadas vezes sem conta. E são tão versáteis que mesmo quando pensamos que já não estão em condições, podemos sempre remendar, transformar, inovar para criar uma peça de roupa nova. Elas merecem o nosso Amor e merecem todas as oportunidades possíveis e imagináveis.
Inês Carvalho, Écostura