Um destes dias vi o documentário “River Blue”. Existem muitos documentários sobre a indústria da moda, e do seu impacto a nivel global. O realizador elege a abordagem que vai querer dar ao filme e, por isso, os vários trabalhos que têm surgido têm focos diferentes:
- alguns focam-se no impacto social e das condições de vida, das pessoas que trabalham na indústria, e que não conseguem ter uma vida digna
- outros focam-se no impacto que os químicos utilizados têm na saúde das comunidades onde as fábricas estão localizadas
- outros ainda olham mais para o impacto ambiental desta indústria
O River Blue aflora um pouco todas estas áreas.
Segue a perspetiva de um conservadorista de rios, que percebeu que a indústria da moda está a pôr em causa a sobrevivência dos rios, nas zonas do mundo onde esta indústria está mais presente.
Mas o que, para mim, que sou leiga no assunto, parecia uma perspetiva um pouco limitadora, acabou por se mostrar uma das mais completas, dentro deste tipo de documentário.
Os rios são fontes de vida. Nas suas margens, nascem pequenas localidades que, mais tarde, se tornam grandes cidades.
Nas suas margens, as populações fazem as suas plantações e, com as suas águas, as irrigam. As comunidades locais usam a água dos rios para as suas atividades diárias, como tomar banho, fazer comida ou beber. Os rios são ainda a fonte de alimento para muitas pessoas que lá pescam, bem como fonte de rendimento para aquelas que fazem do seu leito a sua loja, o seu local de negócio.
Entre os rios mais poluídos do mundo podemos encontrar o rio Citarum na Indonésia, o rio Yamuna na Índia e o rio Buriganga no Bangladesh.
Não é coincidência que estas sejam também as principais origens e locais de produção eleitos da indústria têxtil. São países com pouca, ou nenhuma, regulação ambiental e laboral e são os escolhidos por uma indústria que pretende transmitir e divulgar o glamour.
O efeito dos químicos utilizados na indústria da moda é a causa da morte de muitos rios.
Um rio morto é um rio que destroi e corroi as comunidades por onde passa. Adoece quem utiliza as suas águas (na comida, no banho, para beber), quem se alimenta dos seus peixes, e da comida produzida nas suas margens, quem tem que o atravessar para ir trabalhar ou estudar.
Ou seja, para além do impacto direto na vida dos trabalhadores das fábricas, afetas a esta indústria
- falta de condições de trabalho no que respeita a segurança e salubridade
- remuneração muito aquém do que é necessário para uma vida condigna
- precariedade das relações laborais, etc
há que considerar todo o impacto indireto, da indústria, na restante comunidade:
- nas crianças que crescem neste tipo de ambiente
- nas pessoas que não trabalham nas fábricas, e que tentam fazer as suas vidas noutras atividades (agricultura, pecuária, professores, serviços vários)
- nos animais domésticos e selvagens, que também povoam as margens e os rios
- na própria natureza que tenta sobreviver a estas condições cada vez mais degradantes
No entanto, existem formas de fazer roupa que não têm este impacto, nem nas pessoas, nem na natureza.
Quando escolhemos uns jeans novos baratos, devemos sempre pensar em tudo o que está por detrás, para conseguir um baixo custo. Não são apenas os trabalhadores da indústria que pagam este baixo custo, mas sim toda uma comunidade de pais, mães, filhos avós, pessoas como nós, que vêm a sua saúde posta em causa. São todos os animais, que não têm qualquer responsabilidade da degradação dos seus habitats e é toda uma zona do mundo que está em desequilíbrio ambiental e que, inevitavelmente, vai ter consequências no resto do planeta.